A História da Aviação – Parte 1: dos gênios à máquina mais pesada que o ar!
Fizemos, aqui, uma sinopse da 1a. parte da história do surgimento, desenvolvimento e avanço da aviação, uma das tecnologias mais revolucionárias da humanidade!
Voar! Este sonho permeou a imaginação dos homens e permaneceu estimulando as habilidades de vários cientistas e inventores durante séculos. Na mitologia grega, Ícaro tentou voar com asas coladas com cera, e fracassou. No século XV, Leonardo da Vinci, artista e inventor, elaborou vários projetos futurísticos, nos quais vislumbrava a possibilidade de o ser humano voar, o que só foi viável, ainda que momentaneamente, no século XVIII, quando o português Bartolomeu de Gusmão construiu o primeiro protótipo de um balão, fazendo sua primeira e única ascensão em 1708. Naquela conturbada época, a Inquisição o impediu que continuasse com seus experimentos.
Somente em 1783, na França, é que o balão começou a se tornar uma realidade, mediante os experimentos dos irmãos Montgolfier. Inicialmente, usava-se ar quente, até que o físico francês, Jacques Alexander Charles, provou que o hidrogênio era mais eficiente, ao fazer uma demonstração com seu balão, no qual permaneceu no ar por uma hora, em dezembro de 1783.
Os balões esféricos se tornaram um grande sucesso e eram presença comum em feiras, exposições e competições, além do uso frequente nos meios científico e militar. No entanto, havia um problema: os balões esféricos só podiam ser controlados verticalmente, e esta falta de controle lateral os deixava vulneráveis às condições do vento.
A criação de máquinas voadoras mais leves que o ar, “dirigíveis”: o brasileiro Alberto Santos Dumont entra para a história!
Alberto Santos Dumont, mineiro de Cabangu, nasceu em 20 de julho de 1873. Neto de portugueses e de imigrantes franceses, acreditava que, um dia, seria possível o ser humano voar. Quando adolescente, gostava de ler os livros do francês Júlio Verne, autor de obras como “A Volta ao Mundo em 80 dias”, “20.000 Léguas Submarinas” e “Viagem ao Centro da Terra”, todas com inspirações tecnológicas que o fascinavam. Viu seu primeiro balão esférico estático em São Paulo quando tinha apenas 15 anos. “Eu mantinha meus sonhos guardados dentro de mim porque no Brasil, naquela época, falar em inventar uma máquina voadora ou um balão dirigível seria admitir ser uma pessoa enlouquecida ou visionária”, comentou o jovem Alberto S. Dumont.
Como visionário que era, seguiu seus sonhos.
Em 1891, junto aos seus pais, foi morar em Paris. Começou, então, a estudar ciências e engenharia. Era interessado especialmente em física, química, eletricidade e mecânica.
Concentrou-se nos descobrimentos em aeronavegabilidade, e viu o quanto ainda precisava ser pesquisado. Foi quando surgiu o interesse em desenvolver uma tecnologia na qual fosse possível conduzir, ou melhor, “dirigir” um balão, ao invés de deixá-lo seguir à mercê do vento.
Santos Dumont e a busca pelo voo controlado!
Santos Dumont fez vários voos em balões esféricos até construir o seu próprio balão, quatro vezes menor do que os demais e bem mais leve, batizado de “Brazil”. Seu voo inaugural durou 5 horas e foi realizado, com grande sucesso, na data comemorativa da independência dos Estados Unidos, 4 de julho de 1898.
Este ótimo resultado o inspirou a seguir adiante e a alcançar seu objetivo: criar o primeiro balão “dirigível” e, enfim, poder escolher o destino dos seus voos.
Após muito trabalho e algumas falhas, finalmente, no dia 20 de setembro de 1898, o extraordinário “balão dirigível” fez o primeiro voo controlado da história da aeronáutica, não apenas subindo e descendo como os demais balões, mas também fazendo curvas, graças à potencia do 1o motor de combustão interna, instalado em um balão e aos lemes de direção. Com seu inovador balão dirigível de formato alongado, Santos Dumont se tornou o primeiro navegador aéreo do mundo!
Em outubro de 1898, para marcar este momento histórico e organizar o novo esporte, foi criado o primeiro “aeroclube” do mundo, o famoso “Aéro-Club de France”. Santos Dumont fez parte do primeiro Comitê Diretor, na companhia de Gustave Eiffel e outros ilustres membros.
Uma das primeiras decisões do Comitê foi adquirir uma área em Saint-Cloud (bairro ainda afastado do centro de Paris, naquela época), para criar o primeiro “Aéro-Parc”, que seria a área dedicada aos experimentos dos membros do clube.
Para comemorar a inauguração do Aéro-Parc, no dia 23 de outubro de 1898, foi lançada a primeira competição aérea de balões esféricos do mundo. A partir de então, várias competições foram organizadas com o intuito de promover o avanço da aeronáutica e a superação dos seus desafios.
O Aéro-Club de France se transformou na entidade mais importante do mundo em relação ao desenvolvimento e ao progresso da aeronáutica, começando com o balonismo. Uma de suas inovações, no início do século XX, foi a instituição de exames e licenças de voo para pilotos de balão, que tornava esse esporte muito mais seguro.
Em 13 de novembro de 1899, a bordo do seu revolucionário balão dirigível de número 3, Santos Dumont fez seu voo de maior sucesso até então, realizando inúmeras manobras, com várias voltas em torno da Torre Eiffel e pouso sem incidentes. Com mais este triunfo, a popularidade e a fama de Santos Dumont só aumentaram. Ele se tornou famoso, não só por suas invenções, mas também por sua determinação e resiliência, pois mesmo sofrendo alguns fracassos e acidentes, seguia em frente criando, inovando e solucionando os problemas que, eventualmente, surgiam à sua frente.
Mais uma vez ele inovou ao criar o primeiro hangar do mundo, onde construiu sua fábrica aeronáutica para desenhar e montar seus inúmeros projetos, além de produzir o próprio hidrogênio, necessário aos seus inovadores balões.
Em abril de 1900, Henry Deutsch de la Meurth, um aristocrata entusiasta da aeronáutica, com o intuito de promover o desenvolvimento dos balões, criou o Prêmio Deutsch, no valor de 100 mil francos, para a primeira aeronave que decolasse do Aéro Parc de Saint Cloud e pudesse executar uma volta em torno da Torre Eiffel, retornando ao ponto de partida em 30 minutos ou menos. Este voo deveria ocorrer entre os anos de 1900 e 1904.
Depois de várias tentativas frustradas, no dia 19 de outubro de 1901, em frente a 300 espectadores e com a supervisão do comitê científico do Aéro-Club de France, Santos Dumont conseguiu fazer o voo histórico a bordo do seu dirigível de número 6, tornando-se o famoso vencedor do Prêmio Deutsch! Dos 100.000 francos que recebeu, ele doou metade para seus funcionários e a outra metade para os mais aflitos de Paris.
Durante a comemoração do grande feito, ele revelou a Sr. Louis Cartier que não conseguia monitorar seu tempo sozinho, foi presenteado por este célebre amigo com o primeiro relógio de pulso da Maison Cartier, o modelo “Santos”. O brasileiro se tornou a personalidade mais conhecida do início do século XX, e provou que o sonho de voar e de controlar o voo havia sido, finalmente, realizado!
Santos Dumont: visionário, idealista e incentivador da mulher aviadora
Em 1903, Aberto Santos Dumont se tornou o primeiro grande apoiador da mulher na aviação, quando conheceu a jovem americana de origem cubana, Aida de Acosta. Ela ficou encantada com seus balões dirigíveis e pediu permissão para voar em um deles. Ele aceitou o pedido prontamente, no entanto, desconhecia o real desejo da jovem, de conduzir sozinha sua máquina voadora e, admirado, concordou. Enquanto Aida pilotava o dirigível mais popular de Santos Dumont – o balão de número 9, Baladeuse Aérienne (Carruagem Voadora) – ele a acompanhava, de bicicleta ao seu lado, até o momento do pouso. Este feito rendeu à Aida de Acosta o título de primeira mulher, no mundo, a pilotar uma aeronave! E a pilotou por 2 vezes, pois fez questão de conduzir a aeronave de volta ao ponto de partida.
Além de visionário, Alberto Santos Dumont era um idealista: não acreditava em patentes ou em obter ganho financeiro com suas invenções. Ele disponibilizava todos os diagramas dos seus projetos a quem os solicitasse. Considerava suas invenções “carruagens da paz” e, por meio dos voos, acreditava que os povos da terra, uma vez sem barreiras, poderiam se conhecer, e que essa aproximação promoveria mais compreensão e tolerância na humanidade.
A invenção de máquinas voadoras mais pesadas que o ar, autônomas e controláveis: os aviões
As teorias da aeronáutica, aplicadas mediante o uso de uma máquina mais pesada que o ar, puderam ser comprovadas graças aos trabalhos do ilustre britânico engenheiro, Sir George Cayley. Em 1804, através de suas pesquisas científicas e tecnológicas, ele projetou a primeira aeronave planadora, que chamou de “paraquedas voador”.
Entre 1809 e 1813, ele publicou 3 artigos contendo importantes teorias, que se tornaram a fundação da aeronáutica. Chamou este trabalho de “Navegação Aérea”. Entre 1849 e 1853, projetou, fabricou e voou 2 aeronaves planadoras e um helicóptero. Ficou conhecido como o primeiro engenheiro aeronáutico de todos os tempos!
Baseados nos estudos de Cayley, vários engenheiros se tornaram inventores e começaram a acoplar os primeiros motores a seus planadores, na tentativa de serem os primeiros no mundo a pilotar, de forma autônoma e controlada, uma máquina mais pesada que o ar.
Em 1891, um famoso amigo de Santos Dumont – o professor catedrático Samuel Pierpont Langley, diretor do Instituto Smithsonian, dos Estados Unidos, e pesquisador de astronomia e aeronáutica – publicou uma lei na qual afirmava que a máquina mais pesada que o ar era viável. Para comprovar sua teoria, ele construiu seis aeronaves equipadas com motores a vapor e testou-as, secretamente, no rio Potomac, nos Estados Unidos, próximo à cidade de Washington, D.C.
No dia 6 de maio de 1896, com o uso de uma catapulta, Langley conseguiu voar meia milha de distância, a cem pés de altura, antes de ficar sem meios de propulsão, tendo o inventor do telefone, Alexander Graham Bell, como sua testemunha. Langley concluiu que, para aumentar o desempenho dos seus protótipos, teria que mudar o tipo de motor utilizado, então, viajou à França em busca de soluções. A amizade com Santos Dumont fez com que o brasileiro despertasse seu interesse por máquinas mais pesadas do que o ar, no entanto, no ano de 1900, o Prêmio Deutsch de balonismo era sua prioridade.
Com o apoio do governo americano, Langley deu continuidade a seus experimentos em busca do voo autônomo e controlado. Ele acreditava que os aviões seriam capazes de trazer paz às nações, pois seu poderio inibiria qualquer tentativa de hostilidade militar.
Depois de várias tentativas fracassadas, no dia 8 de dezembro de 1903, ele finalmente se sentiu seguro ao escolher seu mecânico mais brilhante, Charles Manly, para pilotar seu possante protótipo, desta vez equipado com um motor de 52hp. A aeronave foi então catapultada sobre o Potomac, voou alguns pés acima do rio e sofreu uma grave queda. Manly sobreviveu, mas Langley, sem conseguir provar sua teoria de que o problema do voo seria a catapulta, sofreu intensamente e, por se sentir envergonhado, abandonou por completo seus sonhos.
Em 1905, o novo presidente do aeroclube – famoso advogado e investidor, Ernest Archdeacon – lançou um desafio ao oferecer um prêmio de 3.500 Francos ao piloto que conseguisse voar mais de 25 metros numa “máquina mais pesada que o ar”. O Aéro-Club de France já havia oferecido um prêmio de 1.500 Francos para quem conseguisse voar 100 metros. Estes prêmios motivaram os inventores da época a iniciar os experimentos em seus planadores imediatamente.
Apesar de Santos Dumont já ter projetado uma aeronave, a de número 11, e também um helicóptero, seu projeto de número 12, ele só se convenceu de que uma máquina voadora mais pesada do que o ar poderia atingir o objetivo de voar de forma estável e controlada, quando encontrou o motor ideal, observando as corridas de lanchas, pois estes motores eram bem mais leves, robustos e possantes.
A confiança nestes motores levou o brasileiro a iniciar a construção do seu mais surpreendente projeto: um biplano de 10 metros de comprimento e 12 metros de envergadura, feito de alumínio e bambu, coberto com seda japonesa. A empenagem foi instalada na frente da aeronave e o motor, um Antoinette de 24hp, foi inserido na parte traseira. A cabine de pilotagem era uma pequena cesta, como nos balões, onde Santos Dumont iria conduzir sua aeronave, ficando em pé.
Como não dispunha de material para referência, foi preciso que ele mesmo realizasse vários testes de estabilidade em voo, acoplando sua nova invenção ao balão de número 14. A aeronave foi assim batizada de “14 Bis”.
Santos Dumont realizou vários testes no seu 14 Bis, substituindo o motor inicial por um mais potente, de 50hp.
Enfim, no dia 23 de outubro de 1906, o 14 Bis voou por quase 70 metros, a uma altura de 3 metros. Ele realizou este grande feito diante de mil espectadores e na presença da comissão oficial do Aéro-Club de France.
O 14 Bis se tornou, oficialmente, a primeira máquina mais pesada que o ar a voar pelos seus próprios meios, e fez de Santos Dumont o vencedor da Copa de Aviação Archdeacon.
No mês seguinte, dia 12 de novembro, após instalar nas asas sua mais nova invenção, os “ailerons”, ele conseguiu melhorar a estabilidade lateral da sua aeronave e percorreu 220 metros em 21.5 segundos, estabelecendo o recorde oficial de velocidade: 36,84km/h. Santos Dumont conseguiu superar, em dobro, a distância exigida pelo Aéro-Club de France e conquistou mais um prêmio, se tornando manchete nos jornais da França: “Santos Dumont é o Conquistador do Ar!”.
Wilbur e Orville Wright: a disputa pelo titulo
Os irmãos americanos Wilbur e Orville Wright, eram mecânicos que fabricavam e vendiam bicicletas em Dayton, Ohio. Apesar de não terem segurança financeira na época, eles deixaram de lado seu próprio negócio e, munidos de ambição e determinação, decidiram que seriam os primeiros do mundo a pilotar uma máquina mais pesada que o ar, de forma autônoma e controlada. Eles obtiveram grande conhecimento de aeronáutica por intermédio do famoso professor Langley, em 1899. Acompanharam atentamente os voos de teste que o professor executou e, consequentemente, seus insucessos. Mas ao contrário de Santos Dumont, os irmãos Wright não eram idealistas, seu objetivo era obter ganho financeiro através do seu invento, e o foco principal eram as Forças Armadas americanas.
Com muita discrição e cuidado, fizeram várias tentativas e voos de teste em seu planador até instalarem um motor. Seus experimentos eram compartilhados secretamente, apenas com seu melhor amigo, o pioneiro inventor aeronáutico Octave Chanute, um engenheiro francês, naturalizado americano. Eles foram aprimorando seu planador, agora motorizado, até que no dia 23 de março de 1903, ao contratarem um advogado especialista, submeteram um pedido de patente com suas inovações para uma máquina voadora mais pesada do que ar, motorizada ou não. E neste documento, explanaram suas concepções em relação ao controle integral das máquinas voadoras, ou seja, em todos os eixos da aeronave, inclusive o uso de um sistema para estabilização lateral e direcional chamado por eles de “wing warping”, ou torção de asa, sistema este que acoplava as asas ao leme de direção.
Por fim, em 17 de dezembro de 1903, na praia de Kitty Hawk, na Carolina do Norte, eles obtiveram êxito quando conseguiram voar a 3,6 metros de altura, por uma distância de 36 metros percorridos em 12 segundos. Sua aeronave, batizada de “Flyer”, era um planador biplano, equipado com um motor de 12hp. Para a decolagem, no lugar de rodas, foram utilizados apenas 2 cubos de roda. Eles deslizavam sobre trilhos de trem, de 18 metros de comprimento, que foram posicionados numa seção nivelada da areia da praia. Os ventos eram extremamente favoráveis, cerca de 40km/h e, assim, os irmãos puderam fazer 4 voos de teste no mesmo dia. O último deles percorreu 258 metros de distância, em 59 segundos.
Os voos de teste foram testemunhados por apenas 5 pessoas, entre amigos e profissionais que trabalhavam no local como salva-vidas. Uma das testemunhas serviu de fotógrafo e conseguiu registrar os momentos mais importantes. No final do dia, os irmãos Wright enviaram um telegrama à sua família, em Dayton, Ohio, para compartilhar a notícia e comemorar o grande feito!
Este telegrama foi interceptado e a notícia da façanha foi publicada em um jornal. Contudo, devido a tantos insucessos anteriores e à falta de publicidade, a população, assim como os demais meios de comunicação, não acreditaram no ocorrido. A decisão de ter mantido tamanho sigilo prejudicou a credibilidade dos irmãos Wright, não apenas nos Estados Unidos, mas principalmente na França, onde toda a comunidade aeronáutica presumia que estavam blefando.
Entre 1904 e 1905, eles continuaram executando os voos de teste desta vez nas proximidades de Dayton, porém os ventos por lá eram fracos. Para conseguir decolar sem a ajuda dos ventos fortes de Kitty Hawk, surgiu a dúvida: poderiam colocar um trilho bem mais longo para fazer a aeronave deslizar até atingir a velocidade de decolagem, ou manter o pequeno trilho e criar um sistema de catapulta para impulsionar o Flyer ao ar. Optaram pela catapulta. Ao concluir seus voos de teste, acreditaram que poderiam comercializar sua invenção. Entretanto, sem provar publicamente que sua aeronave era, efetivamente, um sucesso, não conseguiram vender sua máquina junto às Forças Armadas americanas. Desejavam assegurar um grande contrato antes da exposição do invento. Então, já que não alcançaram êxito em seu país, em 1905 eles tentaram vender à Inglaterra, depois à França e, finalmente, à Alemanha, mas também fracassaram em todas as tentativas.
Após as demonstrações de Santos Dumont de 1906, os irmãos Wright permaneceram em silêncio, tentando apenas comercializar seu artefato. Os jornais americanos começaram a pressioná-los e duvidar de seus feitos, enquanto seu amigo, Chanute, aconselhava-os a demonstrarem publicamente sua aeronave na Europa, o que seria fundamental para obter a credibilidade de que precisavam para conquistarem os contratos com as Forças Armadas.
Os irmãos Wright decidiram viajar à França em 1908 e mostrar sua aeronave ao mundo. Eles executaram diversos voos de demonstração do novo “Flyer”, com manobras surpreendentes à época. A partir dessas demonstrações, o Aéro-Club de France decidiu dar a Wilbur e Orville Wright, o posto de primeiros aeronautas a superarem o desafio do voo controlado, utilizando uma máquina voadora mais pesada que o ar, desde 17 de dezembro de 1903. E Santos Dumont foi nomeado a partir de então, pelo Aéro-Club de France, como o pioneiro na Europa.
O grande desenvolvimento da aviação começou, promovendo, assim, a ampla utilização dos aviões, tanto para fins civis quanto militares, possibilitando aos irmãos Wright firmarem vários contratos, em especial, com as forças armadas americanas.
Alberto Santos Dumont e a realização de um antigo sonho: a aeronave popular
Alberto Santos Dumont, com a criação da sua máquina voadora de número 9, a famosa “Baladeuse”, deixou na mente da população da época que pilotar sua própria aeronave poderia ser uma realidade, afinal, suas famosas idas aos restaurantes de Paris a bordo do “Baladeuse” se tornaram uma visão comum. Ele acreditava que o futuro da aviação seria muito promissor e que em muito breve estaria ao alcance de todos.
Em 1907, os grandes motivadores da aviação, Deutsch de la Meurthe e Ernest Archdeacon, mais uma vez incentivaram os inventores a criarem máquinas voadoras cada vez melhores e mais ágeis, oferecendo o Grande Prêmio de Aviação. O prêmio seria ofertado a quem realizasse a proeza de completar um voo de 1km em um circuito fechado.
As aeronaves que o Santos Dumont havia desenvolvido não poderiam realizar tal feito. Assim sendo, ele começou a trabalhar no seu novo projeto, o de número 19. Era uma pequena aeronave de 8 metros de comprimento e 5 metros de envergadura, cujas asas eram inicialmente de bambu e cobertas por um tecido de seda. Os controles de voo eram comandados por cordas de piano e a propulsão escolhida foi um motor de 20HP, com cilindros opostos, posicionados no meio da aeronave, acima do piloto. A máquina pesava 56kg.
Esta aeronave se tornou o primeiro avião monoplano do mundo e também a primeira aeronave com asas do tipo ‘Para-sol’. E por ser extremamente elegante, Santos Dumont optou por batizá-la de “Demoiselle”, ou Libélula, em francês.
O aeronauta brasileiro realizou seu primeiro voo numa Demoiselle em 16 de novembro de 1907, e fez vários voos de teste nesta aeronave. No entanto, o aviador Henri Farman foi mais rápido e conseguiu ultrapassar os 1.000 metros no dia 13 de janeiro de 1908, tornando-se assim o ganhador do Grande Prêmio da Aviação.
Devido a algumas falhas em seu protótipo de número 19, Santos Dumont decidiu fazer várias modificações na Demoiselle, principalmente a substituição do bambu por um material triangular muito mais resistente. Com esta alteração, ele conseguiu atingir vários recordes. No dia 6 de abril de 1909, a aeronave de número 20, a nova Demoiselle, voou uma distância de aproximadamente 3.000 metros. Em 13 de Setembro do mesmo ano, com a aeronave de número 21, Santos Dumont voou uma distância de 9.000 metros em apenas 5 minutos. Dois dias após este feito, também pilotando sua Demoiselle, ele quebrou o recorde de decolagem mais curta do mundo: 70 metros!
Depois de tamanho sucesso, várias pessoas pediram ao aviador que construísse e vendesse uma réplica da Demoiselle, mas ele se recusou a comercializar suas aeronaves. Ressaltou que sua intenção era promover e disseminar a aviação.
Para contribuir com seu propósito, gratuitamente entregou o projeto da aeronave a quem se interessasse, e ainda ofereceu mentoria e orientação para sua construção. A Demoiselle se tornou assim, a primeira aeronave produzida em série, no mundo.
Em janeiro de 1910, Santos Dumont fez seu último voo, pilotando a nova Demoiselle de 40hp, com motor Clément-Bayard, a aeronave de número 22. A Demoiselle foi exposta no primeiro Salão Aeronáutico, patrocinado pelo Aéro-Club de France, para celebrar os grandes feitos na aviação até então.
A fabricante do motor Clément-Bayard pôs a Demoiselle à venda por 7.500 Francos, mas Santos Dumont nada recebeu dessa transação. A partir de então, a fabricante do motor substituiu o bambu por tubos de aço na fuselagem, e comercializou cada aeronave pelo valor de 5.000 Francos.
A Demoiselle atingiu extrema popularidade e foi frequentemente usada como aeronave de instrução de voo. Foi numa delas que o herói de guerra francês Roland Garros aprendeu a voar. Esta versátil aeronave se tornou a primeira aeronave produzida em série, no mundo!
Alberto Santos Dumont fez da aviação uma realidade ao alcance de todos!
A Demoiselle: símbolo da AMAB
O símbolo da AMAB – Associação das Mulheres Aviadoras do Brasil – é nossa homenagem ao brasileiro determinado e persistente, que inspirou e incentivou os demais pioneiros, as pioneiras Aida de Acosta, Thereza de Marzo, Anésia Pinheiro Machado, Ada Rogato, Joana de Catilho e todas nós, a seguirmos em frente na busca da realização dos nossos sonhos. Saudamos este brilhante visionário, que idealizou as aeronaves como “carruagens da paz”, capazes de diminuir distâncias e levar união e harmonia à humanidade.
Alberto Santos Dumont, nosso herói!
REFERÊNCIAS:
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Hoffman, P., 2003. Wings of Madness – Alberto Santos Dumont and the Invention of Flight. 1st ed. New York, NY: Theia New York.
Musa, J., Mourão, M. and Tilkian, R., 2001. Alberto Santos Dumont: Eu Naveguei Pelo Ar. 1a. ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora Nova Fronteira.
Museu do Ar. 2019. 14 Bis. [online] Available at: https://www.museudoar.pt/pagina-001.003.002.001-14-bis. [Acessed 11 April 2019].
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